Causando alvoroço no setor de saúde, o anúncio oficial da alienação da carteira de clientes da Unimed Paulistana dado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na última terça-feira (01) gerou diversas dúvidas tanto para os profissionais do segmento como para os clientes que agora não sabem qual será o futuro de suas coberturas.
Mas por que exatamente a empresa com faturamento de 3,2 bilhões ao ano com uma carteira de 744.000 clientes e 3.000 funcionários simplesmente quebra e deixa muitos de seus beneficiários na mão? Entenda o que levou uma operadora de seguros de renome nacional chegar a essa situação.
Imposto
Com uma dívida bastante alta em tributos como Imposto sobre serviços (ISS), PIS e Cofins a Unimed Paulistana já passou por momentos preocupantes que deixaram os profissionais do setor e a ANS alertas a seus movimentos.
Com diversas intervenções do órgão na gestão e comercialização de seus planos de saúde, a cooperativa apresenta desde 2009 problemas financeiros mais graves que foram divulgados pela mídia.
Para Glauco Martins, consultor especializado no setor e proprietário da Gateway Seguros, corretora de referência da zona leste de São Paulo, um dos principais fatores que ocasionaram a quebra da seguradora, é o sistema de cooperativas que a levou a construir o que é conhecido como “carteira apodrecida”.
“Quando um médico torna-se um cooperado paga para ter acesso a carteira de clientes da empresa, ele recebe por consulta, que gera uma receita à ele e uma despesa a operadora, se por algum motivo, independente da receita individual do cooperado, as despesas forem maiores que a receita a diferença acaba sendo paga do bolso do próprio profissional de saúde”, explica Martins.
Com essa desvantagem, muitos médicos deixam de dar preferência aos atendimentos da operadora, reservando uma carga horária menor para as consultas. Essa ação gera uma reação no atendimento geral da operadora que passa a prestar serviços de menor qualidade a seus consumidores.
“Com a redução de atendimentos e exames postergados, problemas que seriam resolvidos em consultórios tornam-se mais graves e geram maior gasto à própria operadora, o que vira uma bola de neve”, afirma Martins.
Os clientes que acabam prejudicados pelo atendimento e não estão em nenhum tratamento optam por migrar para outro plano de saúde deixando para a operadora uma carteira de clientes em tratamento que geram maiores despesas do que benefícios para a empresa em questão, a chamada “carteira apodrecida”.
Má Gestão
Até dezembro de 2014 a Unimed Paulistana ocupava o 23º lugar no ranking das mais poderosas operadoras do Brasil, mas sua posição não foi suficiente para mantê-la.
O último balanço divulgado pela operadora mostrou que em decorrência de sua má gestão e dívidas de impostos o valor das consultas aumentou 110% em três anos, de 2011 a 2014, frente a uma inflação de 27%.
Só no ano passado a carteira da Unimed Paulistana recebeu 159.321 novos beneficiários que são explicados pela criação de novos produtos da operadora que, por sua vez, substituíam àqueles que foram vetados pelas listagens da ANS. A Unimed Paulistana teve planos inclusos na listagem de vetos do órgão há sete anos.
Mesmo um faturamento 89,5% maior do que em 2013 e 24% de economia em medidas como o endurecimento de seus critérios de avaliação e análise mais rigorosa de próteses e materiais especiais para cirurgias, a empresa ainda fechou o ano com suas contas no vermelho em R$43,58 milhões.
Esse valor aumentou ainda mais no último ano e chegou ao número de R$162,2 milhões negativos, mesmo fiscalizado pela ANS.
Preços abaixo dos custos
O último, mas não menos importante, fator que contribuiu para o colapso da operadora foi o que os especialistas chamam no sentido amplo da palavra de “subprime” que representa um crédito de risco, ou no caso da Unimed preços muito abaixo no mercado – com a intenção de trazer mais clientes – mas que não pagam os custos de sua própria carteira.
Uma das últimas operadoras a trabalhar com planos individuais, a Unimed Paulistana se colocou em uma situação de risco maior ainda, já que o custo dos planos não são compatíveis com os demais do mercado e não pagam as despesas da carteira, que é composta principalmente por clientes que já passam por tratamentos e utilizam os benefícios com frequência.
O grande desafio do setor agora, é tentar amenizar as consequências da determinação da ANS para as outras operadoras e atualizar seus beneficiários sobre o real momento que o mercado sem prejudicar suas vendas.